seu corpo já cansado, fatigado da mesma ladainha da sua cabeça, se rende ao consolo da cama solitária de solteiro.o cheiro no travesseiro ainda está lá e o sentido a penetra sem pedir licença, fazendo lembrar do prazer tido naquela tarde incrivelmente quente.
a cabeça rodeia; ela inquieta.
ela pensa em desistir.
ela pensa em deixar pra lá.
ela pensa em melhorar.
ela pensa em esquecer.
esquecer tudo aquilo que a faz sangrar. tudo aquilo que a faz doer. que rasga e queima e pira, faz casulo na cabeça.
talvez pense em encarar.
pensa que todas as opções são fugas. e que deve doer demais encarar aquele fato que já a fez sofrer tanto. e que dói muito agora, dói a toda hora. e que esquecer é quase como colocar a mão num machucado; basta alguma coisinha que cutuque novamente a ferida que ela abre e, sem dó, desanda e desestanca numa enxurrada de lembranças.
angústia na cama molhada de suor, lágrimas e desgostos.
é melhor encarar, o esquecimento pode voltar na forma de lembrança, e a lembrança torna-se sentimento, e o sentimento vir à tona, entrar nos olhos e se transformar em lente. daí subir à cabeça e descer à boca, ir pros membros, ir pro mundo e ferir quem não deve ser ferido.
e sabe que, no fundo no fundo, aquilo tudo está na superfície;
é o ego,
talvez orgulho.
ela briga consigo mesma.