e dessa liquidez, b e b a

rio que transborda ~ águas de dilúvio ~ desaguando em qualquer mar ~ todo o mar ~ maré cheia

quarta-feira, 14 de abril de 2010

sem saber onde ir

diz que fui por aí
diz que virei nuvem, vapor, depois chuva
e que molhei e que caí
que virei rio, riacho, e desaguei

que entrei numa locomotiva
e que virei carvão, pó, fumaça,

que vi a neve cair, que me congelei
que vi a partícula de água
num instante latente
e que te vi sorrir

diz que bebi
que me embriaguei e que caí
chorei sem nem sorrir
sem nem ter colo nem meio-fio
só o preto do asfalto a me sentir

diz que fui tão a fundo no existir
que acabei morrendo
e acordei sequer sendo
um pedaço de mim

que virei tinta, mão,
e me escrevi na tua pele de papel
que me perdi nas ranhuras de tua pele
e me dissolvi em todas elas

diz que me integrei
que virei
que sou

que éramos
que fomos
que seremos
que sempre somos