o som chega primeiro,
o cheiro chega antes,
as minhas portas são invadidas sem pedido de licença
os sentidos são cúmplices da invasão,
permissivos,
impossíveis.
só depois é que vejo o mar.
e nele entro, com toda a ânsia da sinestesia
e daí que me pego assim,
pensando nele e sentindo novamente as vibrações voltarem a dominar meu corpo, minha mente e alterar meu estado de respiração, meu padrão, faz-me imensa confusão.
Mas não é a confusão de uma despensa desarrumada, em estado de caos, mas sim um quarto vazio, limpo, límpido. Talvez dissesse 'plácido'. E é o que me traz seu olhar, seu sorrir, suas rugas de galinha na beira do olhinhos apertadinhos.
Fazia tempo que não sentia uma tremedeira interior, quase arrepio, ao imaginar uma cena. Acho que coisas boas vem aí... sinto os anúncios, os prenúncios; como antes de uma grande revoada. Como se escuta o mar antes, muito antes, de o vê-lo.