em geral, os animais ovulam e copulam com um objetivo: o de reproduzir. você ovula para que seu ovócito seja penetrado por um espermatozóide, o mais rápido e robusto deles, e torne-se um óvulo. posteriormente um embrião e logo logo um feto. mas nós, humanos, temos recursos contraceptivos. não queremos ser como macacas no cio ou como éguas no estro, trepando a todo o momento (isso queremos) e embarrigando a cada ovulação (isso não). também não somos como as ratas, que se não estiverem no estro, não acasalam. sem o estímulo hormonal da ovulação uma rata não consegue se colocar na posição sexual, a lordose, na qual ela arqueia as costas e sacode sua caudinha para bem longe, prontinha para receber seu macho. essa posição muda o ângulo e a abertura da vagina, tornando-a acessível ao pênis do seu ratinho quando ele a cobre por trás. nas porquinhas-da-índia uma membrana normalmente recobre a abertura vaginal. para abrir a membrana e permitir o sexo é preciso haver a liberação de hormônios sexuais, durante a ovulação. e o hormônio sexual que dita em maior tom de voz é o estrogênio; é ele que controla tanto o desejo sexual como a física sexual. ainda bem que não temos membrana alguma nos impedindo de transar quando bem entendemos ou dependemos do estrogênio para nos posicionarmos, apenas quando estamos ovulando e sabemos que a chance de gerar prole é quase sempre garantida, de quatro ou de pernas abertas. ainda bem que somos como nossas amigas primatas - transando quando bem entendemos - e com uma vantagem em cima delas: não engravidamos a toda ovulação, graças aos nossos métodos, seja lá qual for ele. mas, será que ainda não temos alguns requícios dessa aparente "evolução"? será que nosso corpo não guarda mágoas e rancores, na forma de primitivismos? qual será a função biológica da cólica? ficarmos tão doloridas a ponto de nos sentirmos um vegetal prostado na cama ou ficarmos iradas como forma de proteção (??) ao óvulo não fecundado que está sendo desprezado e descartado? tirando o fato cientificamente tedioso de que a dor é proveniente dos movimentos musculares de compressão de nosso querido útero (órgão único e sem equivalente masculino), para que então o endométrio se destaque do nosso miométrio e descame, levando com ele - como se já não fosse suficiente a perda significativa de tecido da nossa parede uterina - sangue, muito sangue, será que nosso querido corpitcho não sente uma pontinha de mágoa por não haver fecundado dessa vez? será que, ao perceber que o primoroso e dispendioso (afinal, por que é que você pensa que quer comer tanto chocolate assim? tanto açúcar a cada dia de tpm e durante a menstruação? filhota, o trabalho da ovulação é energeticamente dispendioso! esse seu desejo de chocolate nada mais é que obra do seu órgão feminino pedindo energia, energia, energia!! pra cobrir tudo aquilo que agora ele sabe que está simplesmente indo para o lixo, quer dizer, para o absorvente. é seu útero reinvidicando energia) trabalho de preparar e escolher um ovócito entre vários outros possíveis ovócitos para ser liberado e lindamente farejado e capturado pelas fímbrias rosadas de nossas tubas uterinas para abrigá-los numa viagem pelo túnel rosado de nossa mucosa falompiana foi por água abaixo (ou útero abaixo), ele não se sente triste? e chore? e doa? seja machucado e também machuque?
acho que esse é ponto de vista que quero ter das minhas cólicas, já que elas me acompanham há vários anos e provavelmente continuarão a me acompanhar pelo resto de minhas menstruações. não a nego. nunca a neguei. nego o sofrimento calado. dou ao meu útero o direito de não calar sua dor. de se mostrar ferido e me ferir também, de sentir ira por não ter sido fecundado e gritar de dor. dou-lhe o direito ao sofrimento, dou-lhe o direito a dor, dou-lhe o direito ao grito. dou-lhe tudo isso e grito e choro junto com ele.
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